Por uma cenografia da enunciação: a literatura como produção de contexto

 

 
Aula 1 - 19/08/2013 
Nesta primeira aula será feita uma introdução sobre a perspectiva crítica que vê na enunciação um princípio organizador produtivo para o texto literário. 

Aula 2 - 26/08/2013 
Enunciação e mundo: os corpos 

Lendo as desventuras de Justine, personagem inventada pelo marquês de Sade, e cuja história é reescrita em três diferentes versões – Les infortunes de la vertu (1787); Justine ou les malheurs de la vertu (1791) e La nouvelle Justine ou les malheurs de la vertu (1797) – propõe-se discutir o funcionamento da cenografia literária, a partir de sua engrenagem com o(s) corpo(s) no momento de leitura, notadamente no que concerne à dinâmica entre lei e gozo. Têm-se como base teórica as noções de agenciamento coletivo da enunciação e agenciamento maquínico dos corpos, desenvolvidas por Deleuze e Guattari (1980). Entendendo-se “corpo”, portanto, por uma espécie de vetor que articula “texto” e “mundo” e desloca a contraposição ontológica entre matéria puramente fisiológica e exercício mental da leitura, ao mesmo tempo em que sugere outra noção de historicidade, espera-se (re)pensar a enunciação literária, desnaturalizando o ato de leitura. 

Aula 3 - 09/09/2013 
O político e a enunciação 
Orientados pela reflexão poética de Paul Valéry, observaremos como enunciar os textos do poeta francês revelaria afinidades entre o poético e o político, afinidades acionadas pelas torções performativas instauradas na margem entre aquilo que o enunciado diz e aquilo que a enunciação faz, ou seja, no limiar do pêndulo poético valeriano e da oscilação “entre a Voz e o Pensamento, entre o Pensamento e a Voz, entre a Presença e a Ausência” (VALÉRY, 2007, p. 206). Consequentemente, a hesitação prolongada da enunciação poética estaria carregada de forças que suspendem e diferenciam hábitos linguísticos e sociais fiduciariamente vigentes, implicando uma política (talvez uma ética) de partilha das possibilidades de criar novas formas de pensar e agir. 

Aula 4 – 16/06/2013 
Enunciação e temporalidade: a historicidade distorcida 
A relação entre a historicidade de uma obra e a própria obra são, usualmente, confundidas com as relações entre o contexto histórico de produção da obra, quase sempre utilizado como O contexto, e a obra em si. Discutirei, a partir de excertos de Galáxias, de Haroldo de Campos, como, por meio de um intrincado jogo de cenografias da enunciação e de deslocamentos dessas cenografias, é possível perceber um fluxo contínuo de temporalidades. Este, por sua vez, acaba por criar uma diversidade de contextos e, como consequência, faz a obra reposicionar-se constantemente frente à História, gerando uma historicidade distorcida. 


Aula 5 - 23/09/2013 
O livro como enunciação 
Embora as pessoas envolvidas com a crítica literária lidemos quase que constantemente com livros, não costumamos gastar muito tempo refletindo sobre esse espaço. Tendo isso em mente, esta aula propõe-se a discutir como a edição cria e impõe contextos ao texto literário e como este se relaciona com aqueles. Para tanto, será analisado o “Poema-orelha” (1959) de Carlos Drummond de Andrade, levando-se em conta tanto a reflexão de Gérard Genette sobre a edição e a orelha dos livros, quanto a leitura que a profa. Márcia Cabral da Silva faz de um catálogo da editora que publicou originalmente esse poema. 

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, C. D. “Poema-orelha” In: A vida passada a limpo. Rio de Janeiro: Record, 2002. (também disponível em Andrade, C. D. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Record, 1998.) 
BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral I. Campinas: Pontes, 2006. 
CAMPOS, Haroldo. Galáxias. São Paulo, Ed. 34, 2011. 
DELEUZE, G; GUATTARI, F. “20 novembre 1923 – Postulats de la linguistique”. Mille plateaux. Paris: Minuit, 1980, pp. 95-139. 
______. “20 de novembro de 1923 – Postulados da linguística”. Mil platôs. v. 2. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro: 34, 1995, pp. 11-49. 
GENETTE, G. “Introdução”, “Peritexto Editorial” e “O Press-release”. In: Paratextos editoriais. Cotia: Ateliê editorial, 2009, pp. 9-37 e 97-107. 
SADE, D. A. F. Œuvres. vol. 2. Paris : Gallimard, 1995. (Pléiade). [Será providenciada a tradução dos trechos trabalhados em aula] 
VALÉRY, P. “O Solitário ou as Maldições do Universo” in: Meu Fausto (trad. de Lídia Fachin e Sílvia M. Azevedo). Cotia: Ateliê Editorial, 2011, p. 147-172. 
VALÉRY, P. “Poesia e Pensamento Abstrato” e “Primeira aula do Curso de Poética” in: Variedades. São Paulo: Iluminuras, 2007, p. 179-210.