Programação - Tradição clássica no Brasil contemporâneo: literatura, língua e arquitetura


Apresentação 
Aula 1 (12/03/2013, terça-feira) 
Título: “Tradição clássica” e contemporaneidade. 
Descrição: Trata-se da apresentação da discussão ampla sobre a importância dos conteúdos “clássicos” (história, literatura, artes plásticas entre outros), na constituição da idéia de Ocidente. Nesta aula, a perspectiva de apresentação estará ligada a essa dinâmica chamada uso/apropriação/recepção do passado na Europa e EUA, explorando-se também a situação do Brasil nesse contexto. 

Primeira parte: Literatura 
Aula 2 (19/03/2013, terça-feira) 
Título: Brasil, identidade brasileira e tradição clássica. 
Descrição: A experiência grega e romana antiga serve como parâmetro para a constituição de uma história brasileira? Há algo de épico nas narrativas literárias do Brasil? Para José de Alencar, a forma de contar a narrativa do povo brasileiro não deveria ser a homérica (Cartas sobre a Confederação dos Tamoios), o que já tinha sido feito por Gonçalves de Magalhães (A confederação dos Tamoios). Na década de 1940, um editorial da Folha da Manhã dizia: “O Brasil não precisa de latinistas e helenistas para nada”, mas duas grandes obras de síntese da brasilidade apontam para a referência clássica: N’O povo brasileiro, Darcy Ribeiro chega a caracterizar o Brasil como “Roma tropical” e, ao comentar o seu Viva o povo brasileiro, João Ubaldo Ribeiro diz que a ideia da condução da Guerra do Paraguai relacionada ao combate entre orixás é baseado na disputa entre deuses na Ilíada e Odisséia. Entre essas idas e vindas, o objetivo desta aula é discutir a apropriação do referencial clássico, greco-romano, na articulação de uma identidade brasileira no campo da literatura. 

*** Dia 26/03/2012 não haverá aula *** 

Aula 3 (02/04/2013, terça-feira) 
Título: O Minotauro e Os doze trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. 
Descrição: A obra de Monteiro Lobato tornou-se referencial importante para a formação infantil, seja na sua produção ficcional, até a informativa, como a História do Mundo para Crianças. Entre polêmicas recentes (o debate sobre a inadequação de elementos possivelmente racistas) e passadas (por exemplo, sua ação engajada na Campanha do Petróleo e a crítica à exposição da pintora Anita Malfatti – “Paranóia ou mistificação?”), é claramente observável a preocupação com a descrição de tipos humanos brasileiros e um debate sobre a modernidade. Nesse contexto, as obras O Minotauro e Os doze trabalhos de Hércules indicam como esses temas eram vistos por esse influente autor, tendo como referência elementos, na sua ótica, positivos (como a Atenas de Péricles, como um exemplo utópico – o próprio Sítio do Pica-Pau Amarelo) e negativos (o Minotauro como metáfora da modernidade). 
Aula 4 (09/04/2013, terça-feira) 
Título: A Lisístrata paulista e a Medéia carioca – sobre a atualidade do teatro grego na História recente do Brasil. 
Descrição: Em 2 de setembro de 1968, o então deputado federal Márcio Moreira Alves apresentou um discurso no Congresso Nacional que ficou conhecido como “Operação Lisístrata”: a partir do exemplo dessa comédia de Aristófanes, que ele acabara de assistir em uma montagem dirigida por Maurice Vaneau, Alves estabeleceu uma relação entre as mulheres paulistas que resistiram na Guerra dos Emboabas propondo, assim, uma parâmetro para a atuação feminina no momento em que vivia: um boicote feminino aos militares, acirrando a tensão entre o governo militar e o Congresso Nacional, o que desencadeou na instituição do AI 5. Em 1975, Chico Buarque e Paulo Pontes publicaram a peça intitulada Gota d’Água; na qual, Jasão, Creonte e Egeu dividem a cena com Cacetão, Galego e Xulé, além da heroína da peça: Joana, uma versão carioca de Medéia. No prefácio da peça, os autores dizem: “o fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro. (...) Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira”. O objetivo desta aula é discutir a idéia de universalidade dessas estórias contadas no teatro grego como referência para a reflexão da história do Brasil. 

Segunda parte: Língua 
Aula 5 (16/04/2013, terça-feira) 
Título: Processo de alfabetização e a origem do sistema alfabético. 
Descrição: O processo de alfabetização, que se tornou elemento fundamental das sociedades ocidentais desde o século XIX, é caracterizado pela aptidão básica de domínio de um sistema simples de caracteres (em torno de 20) que representam dois grupos de fonemas (vogais e consoantes) e sua projeção a um conjunto lexical; ou seja, um processo baseado na descrição de fonemas vocálicos e consonantais. O objetivo desta aula é apresentar as conexões entre essa fase do processo de alfabetização e a própria origem do alfabeto, na medida em que o sistema alfabético grego organizava-se a partir dessa distinção básica entre vogais e consoantes, o que não acontecia com o alfabeto fenício (exclusivamente consonantal). Com isso, serão exploradas questões sobre a origem do alfabeto fenício e grego, sua influência na composição do alfabeto latino e as conexões de longa duração com a forma de aquisição do letramento ainda atualmente. 
Aula 6 (23/04/2013, terça-feira) 
Título: Letras gregas e simbologia cristã (aula teórica). 
Descrição: O grego antigo e o latim, caracterizadas como línguas mortas, são frequentemente apresentados em ambientes específicos e exercem ainda atualmente alguma influência, como no ensino das línguas clássicas no sistema de ensino primário (atualmente quase ausente), universitário e áreas afins (por exemplo, usos mais delimitados como a nomenclatura cientifica das espécies na Biologia e a utilização de caracteres gregos na descrição de fórmulas matemáticas); e também em ambiente religioso cristão manteve-se, em várias situações, a presença de elementos ligados à língua grega e latina. O objetivo dessa aula é apresentar um exemplo bastante freqüente no espaço urbano atual – o monograma cristão estruturado pelas letras gregas XP, iniciais da palavra grega Christos, e relacionados; bem como as estratégias de sua manutenção ao longo de séculos. 
Aula 7 (28/04/2013, domingo) 
Título: Letras gregas e simbologia cristã (estudo do meio [excursão] – circulação no Cemitério da Consolação). 

Descrição: Explorando as questões apresentadas na aula anterior, o objetivo desta aula é apresentar um exemplo a partir do estudo do meio – a circulação no Cemitério da Consolação, SP, para identificar e interpretar a presença do monograma cristão XP e relacionados nesse local. 

Terceira parte: Arquitetura 
Aula 8 (30/04/2013, terça-feira) 
Título: O debate sobre a “arquitetura clássica” – o clássico greco-romano, o clássico renascentista, o barroco, o neoclássico, o eclético e os estilos historicistas. 
Descrição: A chamada “arquitetura clássica” (compreendendo principalmente a edificação pública civil e religiosa grega e romana) foi base para inúmeras recuperações em períodos posteriores. Entretanto, tais recuperações moldaram, em vários aspectos, a compreensão das formas “clássicas” arquitetônicas. Um exemplo é a própria compreensão cronológica atualmente observada: pensa-se na arquitetura grega desde os palácios em Creta da Idade do Bronze, passando pelas edificações do período arcaico, clássico e helenístico, posteriormente apropriadas pelos romanos que também as associavam a outros elementos como arcos e abóbadas. Entretanto, a redescoberta dessas formas arquitetônicas se deu de forma quase oposta: a arquitetura romana foi amplamente discutida desde o século XV por vários tratadistas renascentistas, e apenas no século XVIII a arquitetura grega passou a ser mais profundamente compreendida, principalmente os edifícios clássicos e arcaicos que forneciam também fonte para a criação arquitetônica européia nesse contexto, o que se convencionou chamar de arquitetura neoclássica. Sobre as edificações da Idade do Bronze, apenas no século XIX é que elas passam a ser mais consistentemente estudadas. Dessa forma, a influência do debate moderno e contemporâneo é bastante grande para a compreensão da “arquitetura clássica”. 
Aula 9 (07/05/2013, terça-feira) 
Título: Elementos da “arquitetura clássica” no centro histórico de São Paulo (aula teórica). 
Descrição: O centro histórico da cidade de São Paulo é composto por edifícios, monumentos e outros tipos de espaços cuja caracterização estilística é bastante variada. Nesse contexto, é claramente observável uma presença consistente de edifícios portando elementos próprios da arquitetura clássica, como colunas dóricas, jônicas, coríntias, toscanas e compósitas; arcadas, cornijas, frontões, balaústres, entre outros. Esses edifícios são caracterizados como neoclássicos, neorrenascentistas e ecléticos e o nome mais constantemente mencionado é o do arquiteto Ramos de Azevedo. O objetivo dessa aula é discutir, a partir de elementos da aula anterior, a caracterização específica do estilo de vários desses edifícios, o que parece ser bastante importante, na medida em que os estilos indicam diferentes propostas de diálogo como o referencial antigo (a arquitetura clássica – greco-romana). Além disso, a própria situação desses edifícios como bens tombados apresenta uma discussão importante sobre a sua manutenção e o valor (histórico, arquitetônico e (ou) artístico) atribuído a eles. 
Aula 10 (11/05/2013, domingo) 
Título: Elementos da “arquitetura clássica” no centro histórico de São Paulo (estudo do meio [excursão] – circulação no “centro velho” de São Paulo). 
Descrição: Explorando as questões apresentadas nas aulas anteriores, o objetivo desta aula é apresentar um exemplo a partir do estudo do meio – a circulação no Centro Histórico de São Paulo (entre o Pátio do Colégio e o Teatro Municipal), para identificar e interpretar a presença de elementos da arquitetura clássica. 
Aula 11 (14/05/2013, terça-feira) 
Título: O neoclássico contemporâneo e a paisagem urbana atual (aula teórica). 
Descrição: A verticalidade das cidades atuais é consistentemente caracterizada por novas técnicas, muitas delas desenvolvidas no século XIX e amplamente projetadas nos séculos posteriores (como o vergalhão de aço relacionado ao concreto armado), elementos praticamente ausentes da discussão e prática da arquitetura clássica. Entretanto, mesmo nesse contexto, os elementos da arquitetura clássica não desaparecem completamente e foram também utilizados na composição estética (ornamentação) de arranha-céus. O objetivo dessa aula é apresentar essa nova utilização dos elementos clássicos na arquitetura contemporânea, o que se convencionou chamar “neoclássico contemporâneo” e a sua influência na paisagem urbana atual. 
Aula 12 (19/05/2013, domingo) 
O neoclássico contemporâneo e a paisagem urbana atual (estudo do meio [excursão]: circulação na Avenida Paulista, SP). 

Descrição: Explorando as questões apresentadas na aula anterior, o objetivo desta aula é apresentar um exemplo a partir do estudo do meio – a circulação na região da Avenida Paulista, SP, para identificar e interpretar a presença de elementos da arquitetura do neoclássico contemporâneo. 

Conclusão 
Aula 13 (21/05/2013, terça-feira) 
Título: “Somos todos gregos”? 
Descrição: No prefácio ao poema Hellas (1822), o poeta Shelley disse que “somos todos gregos. Nossa cultura e nossas e artes têm suas raízes na Grécia”, o que foi replicado mais de cento e setenta anos depois pelo então presidente dos EUA em 1999, Bill Clinton: “Somos todos gregos, não por causa de monumentos e memórias, mas porque o que começou aqui dois mil e quinhentos anos atrás, foi finalmente, depois de todas as lutas sangrentas do século 20, adotado em todo o mundo”. Pensando que a identidade está ligada a processos ativos de seleção de memória, como pensar a constituição de uma “tradição clássica”? O objetivo desta aula é discuti-la, aproveitando os casos tratados ao longo do curso. 

VII. Bibliografia:
ALENCAR, J. de. (1953) Cartas sobre a Confederação dos Tamoios. In: CASTELO, J. A. A Polêmica sobre a Confederação dos Tamoios. São Paulo: Edusp. 
AUGUSTO, M. das G. de M. (2011) Vamos ler Platão. Lá está tudo. Notas sobre os gregos em Tutaméia de João Guimarães Rosa. In: BRUNO, M. C. O.; CERQUEIRA, F. V. & FUNARI, P. P. A. (orgs.). Arqueologia do Mediterrâneo Antigo: Estudos em homenagem a Haiganuch Sarian. Campo Grande: Life Editora, p. 129-60. 
CASTRO, I. (1991) Curso de história da língua portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta 
CHEVITARESE, A. L.; CORNELLI, G. & SILVA, M. A. De O. (orgs.) (2008) Tradição clássica e o Brasil. Brasília: Fotium Editora. 
COLQUHOUN, A. (2004) Modernidade e tradição clássica. Ensaios sobre arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify. 
COSTA, A. L. M. (1997/1998) Rosa, ledor de Homero. Revista USP, n. 36 (Dossiê 30 anos sem Guimarães Rosa), São Paulo. 
COULANGES, N. D. F. de (1864) La cité antique. Paris : Durand. 
DETIENNE, M. (2008) Os gregos e nós. Uma antropologia comparada da Grécia antiga. Trad.: Mariana P. S. da Cunha; São Paulo: Edições Loyola. 
EVERS, B. et al. (2003) Teoria da arquitetura. Do Renascimento até aos nossos dias. 117 tratados apresentados em 89 estudos. Trad.: Maria do Rosário Paiva Boléo; Köln, London, Los Angeles, Madrid, Paris, Tokyo: Taschen. 
FINLEY, M. I. (1988) Democracia antiga e moderna. Rio de Janeiro: Graal. 
FRANCISCO, G. da S. (2009) Tradição clássica no Brasil contemporâneo: abordagens a partir da epigrafia grega. In: Semana de Arqueologia (MAE/USP), 2009, São Paulo. Revista do MAE/USP: Anais da I Semana de Arqueologia - MAE. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007. v. 8, p. 133-41. 
_____. (2012) Tradição Clássica no Brasil contemporâneo. Elementos da arquitetura clássica em São Paulo e em Londrina. Boletim do Museu Histórico de Londrina. n. 4, 2012 (no prelo). 
HAVELOCK, E. A. (1996) A revolução da escrita na Grécia e suas conseqüências culturais. Trad.: Ordep José Trindade Serra. São Paulo, Rio de Janeiro: Editora da Universidade Estadual Paulista, Paz e Terra. 
HOOKER, J. T. (org.). (1996) Lendo o passado: a história da escrita antiga do cuneiforme ao alfabeto. São Paulo: EDUSP, Melhoramentos. 
JEFFERY, L. H. (1990) The local scripts of archaic Greece. A study of the origin of Greek alphabet and its development from the eighth to the fifth centuries B.C. Oxford: Clarendon Press.
LOBATO, J. B. M. (1933) História do Mundo Para Crianças. São Paulo: Cia. Editôra Nacional. 
_____. (1944) O Minotauro: maravilhosas aventuras dos netos de dona Benta na Grécia antiga. 3ª ed., São Paulo: Brasiliense. 
_____. (1956) Os doze trabalhos de Hércules. 2 vol. São Paulo: Brasiliense. 
MARQUES, L. (org.) (2008) A fábrica do Antigo. Campinas: Ed. da UNICAMP. 
RIBEIRO, D. (2006) O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. (reimpressão), São Paulo: Cia. das Letras. 
RIBEIRO, J. U. (1984) Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 
RISÉRIO, A. Dicotomia racial e riqueza cromática. Site do Ministério da Cultura, consultado em 06/08/2007: http://www2.cultura.gov.br/scripts/artigos.idc?codigo=387 
SARIAN, H. (1998-1999a) A escrita alfabética grega: uma invenção da polis? A contribuição da arqueologia. Clássica, São Paulo. v. 11/12, n. 11/12, p. 159-177. 
SHELLEY, P. B. (1822) Hellas: a lyrical drama. London: Charles and James Ollier. 
SUMMERSON, J. (2006) A linguagem clássica da Arquitetura. Trad.: Sylvia Ficher; São Paulo: Martins Fontes.